Irmãos e irmãs muito amados!

Consciente da importância fundamental da Palavra de Deus na vida dos cristãos e das cristãs, a Igreja no Brasil, desde 1971, instituiu o mês de setembro como o Mês da Bíblia, em homenagem a São Jerônimo, grande biblista na história da Igreja, sendo o dia 30 de setembro a ele dedicado.  Portanto, neste ano de 2021 comemoramos 50 anos deste projeto do mês bíblico. Para cada ano é proposto um tema não só para estudo e reflexão, mas para que seja transformado em prática efetiva no cotidiano de nossa vida. Como sabemos, para este ano, o tema escolhido foi a Carta de São Paulo aos Gálatas, tendo por lema: “POIS TODOS VÓS SOIS UM SÓ EM CRISTO JESUS” (Gl 3,28). Nos encontros anteriores comentamos os dois primeiros capítulos desta Carta. Hoje entramos no capítulo 3. Sugiro que cada um de nós leia este capítulo com muita atenção junto com o comentário abaixo.

O exemplo de Abraão (Gl 3,1-7)

São Paulo está totalmente convencido de que o verdadeiro evangelho baseia-se na fé em Jesus Cristo morto e ressuscitado. Por consequência, a vida do cristão e da cristã deverá ser vivida de acordo com as inspirações do Espírito Santo. Ele ilumina o caminho a ser seguido e, assim, não será mais necessário seguir as prescrições da Lei judaica. No entanto, o grupo de pregadores judaizantes insistia que os gálatas que aderiram à fé cristã deveriam ser circuncidados e observar as demais normas e costumes judaicos como caminho necessário para a salvação. Paulo se contrapõe a estes pregadores usando o exemplo de Abraão, o Pai do povo de Israel, conforme relata a Sagrada Escritura.

Abraão acreditou em Deus e depositou nele toda a confiança. Por causa de sua fé foi considerado justo. A lei só entrou em Israel no tempo de Moisés, mais de quatrocentos anos depois de Abraão. Foi para Abraão, antes da Lei, que Deus fez uma promessa que abrangeria todos os povos da terra. Deus disse: “Em ti serão abençoadas todas as nações” (Gn 12,3). Disse também: “O herdeiro será alguém saído de teu sangue. E conduzindo Abraão para fora, disse: ‘Ergue os olhos para o céu e conta as estrelas, se as pode contar’, e acrescentou: ‘Assim será a tua posteridade’. Abraão creu em Deus, e lhe foi tido em conta de justiça” (Gn 15,2-6).

A pessoa justa vive pela fé (3,8-18)

São Paulo aprofunda a sua reflexão argumentando que a promessa de Deus foi cumprida plenamente em Jesus Cristo, o herdeiro de Abraão, através do qual todas as nações se tornam abençoadas. A conclusão se torna clara: todas as pessoas que acreditam em Jesus Cristo são da descendência de Abraão, filhos e filhas de Deus. Pertencem, agora, à família de Jesus, beneficiadas pelo amor gratuito de Deus. Por consequência, a fé em Jesus nos torna novas criaturas: justas, verdadeiras e solidárias, independentes do povo a que cada pessoa pertença.

A fé na gratuidade do amor de Deus nos torna livres para fazer o bem sem discriminação. Enquanto a pessoa está apegada à observância das minúcias da Lei permanece escrava. É isso que Paulo chama de “maldição da Lei”. Para alguém ser justificado diante de Deus deveria observar todos os detalhes dela. Isso se torna impossível no cotidiano da vida de um ser humano que fica com o peso da Lei sem poder dar conta das suas exigências. Para sair desta “maldição da Lei” Paulo resgata uma frase do profeta Habacuc: “O justo vive pela fé” (Hab 2,4). Viver pela fé consiste em estar atento à vontade de Deus para cada momento, com mente e coração abertos ao que o Espírito Santo nos inspira.

O papel da Lei (3,19-22)

Diante da argumentação de Paulo, surge esta pergunta: “Então, para que serve a Lei escrita na Bíblia? Ela contradiz a promessa que Deus fez a Abraão?” Paulo responde que a Lei teve grande importância a ponto de ser promulgada por anjos. Deveria estar a serviço da Promessa de Deus e orientar as pessoas no caminho de fidelidade à sua Aliança de Amor. Aconteceu, porém, que a Lei foi interpretada e aplicada segundo os interesses dos líderes político-religiosos de Israel. Tornou-se um fim em si mesma ao invés de ser um meio através do qual o povo se prepararia para a vinda do Messias-Salvador, conforme Deus prometera a Abraão e conforme anunciaram os profetas.

Quando a Lei é vivida como algo absoluto, as pessoas se tornam suas escravas. Assim, perdeu o seu papel de educadora da consciência do povo; deixou de promover a vida; impossibilitou a liberdade e a salvação. Pelo contrário, introduziu preconceitos, discriminações, barreiras e uma infinidade de regras que afetavam negativamente o cotidiano da vida do povo.  Quem vai possibilitar a saída desta situação é Jesus Cristo.

Todos UM SÓ em Jesus Cristo (3,23-29)

Apesar da Lei ter se tornado um enorme peso nas costas do povo, Paulo valoriza a sua função de ser educadora ou pedagoga até a vinda de Jesus. O tempo da Lei foi o tempo da menoridade, isto é, assim como uma criança necessita de alguém que a cuide e a eduque, do mesmo modo o povo esteve sob os cuidados da Lei. Agora chegou o tempo da maioridade ou da fase adulta para todos os que acolhem e seguem a Jesus Cristo. Enquanto a Lei, com todas as suas prescrições, introduziu uma mentalidade discriminatória entre os judeus e não judeus, entre mulher e homem, entre escravos e livres, entre pobres e ricos, entre doentes e os que têm saúde…, Jesus inaugurou um novo tempo: o da fé que age pelo amor sob a luz e a força do Espírito Santo.

A fé em Jesus possibilita a derrubada dos preconceitos e de todos os muros que separam as pessoas. Para confirmar esta verdade maravilhosa, Paulo se utiliza de um hino que era cantado nas comunidades cristãs durante a celebração do Batismo: “De fato, todos vocês são filhos de Deus, por meio da fé em Cristo Jesus. Pois todos vocês que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, POIS TODOS VOCÊS SÃO UM SÓ EM CRISTO JESUS”.

 Irmãos e irmãs amados! Eis aí o lema do mês da Bíblia do corrente ano. Está aberta também para nós a possibilidade concreta de uma nova sociedade. A fé em Jesus, assumida pelo Batismo, nos compromete a promover a unidade na diversidade, a acolher as diferenças sendo aprendizes uns dos outros, a abolir o machismo e todas as formas de superioridade, a defender a dignidade de todos os seres humanos e de toda a criação…, pois somos filhos e filhas de Deus, pertencemos à família de Jesus. Ele nos fez um só corpo…

Para dialogar em pequenos grupos:

1. Ler, reler e comentar o capítulo 3 da Carta aos Gálatas.
2. O que mais nos chamou a atenção neste capítulo. Por que?
3. A fé em Jesus nos leva a derrubar todas as barreiras que nos separam… Que barreiras ainda persistem no meio de nós e como superá-las?

• Preces espontâneas e concluir com o texto: Gl 3,26-29.

Celso Loraschi

 loraschi@facasc.edu.br