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24 de fevereiro de 2020Padre Celso: “O trabalho missionário sempre foi um desejo meu”
Encerrar um ciclo em uma comunidade faz parte da vida de um padre. Porém, sair em missão é uma maneira diferente de vivenciar o sacerdócio. O padre Celso Carlos Puttkammer dos Santos já está vivendo essa experiência. Desde o dia 4 de janeiro no município de Soure, localizado na Ilha de Marajó, estado do Pará, o padre conta, em entrevista, que o trabalho missionário sempre foi um desejo, que agora está sendo realizado, atendendo também ao pedido do Papa Francisco para sermos uma “Igreja em Saída”.
Padre Celso se despediu da Paróquia Imaculada Conceição, de Fraiburgo, no dia 28 de dezembro. A celebração de envio foi marcada por momentos de muita emoção e agradecimentos por parte da comunidade.
A Diocese de Caçador, através do Bispo Dom Severino Clasen, dos padres, Secretariado Diocesano de Pastoral, pastorais, movimentos e comunidades paroquiais, agradecem ao Padre Celso pela dedicação, carinho e empenho com que trabalhou em Fraiburgo e deseja muita luz nessa caminhada que se inicia e que o espírito missionário possa ajudar a construir novos caminhos e ser esperança para tantas pessoas necessitadas.
Confira a entrevista:
1. Quanto tempo esteve em atividade na Paróquia de Fraiburgo e qual a sua avaliação sobre o trabalho desenvolvido?
A nossa equipe, constituída por Pe. Vilmar, Pe Zezinho e eu, trabalhou durante os sete anos. Chegamos juntos e depois deste cada um foi designado para lugares diferentes, em missões diferentes. Em algumas conversas que mantivemos, os três avaliamos que foi um tempo muito bom. Buscamos ao longo destes sete anos, intensificar alguns trabalhos, seja em nível de organização dos Conselhos, seja de fortalecimento das Pastorais e Movimentos que procuraram caminhar em comunhão com a Paróquia, com a Diocese, com o Regional e com a toda a Igreja, em sintonia com nosso querido e amado Papa Francisco. Buscamos fortalecer o espírito missionário, como nos pede a Conferência de Aparecida e o Papa Francisco, que sejamos uma “igreja em Saída” em direção às periferias geográficas, sociais e existenciais. Também a formação foi uma prioridade. Tivemos muitas experiências e processos formativos que aconteceram ao longo deste ano: Teologia Popular, Conselhos de Pastoral (comunitário e paroquial), Formação Litúrgica, Estudos Bíblicos, Espiritualidade, Formação para Animadores de Grupos de Reflexão, Formação para organização dos Grupos Amigos de Jesus, e tantos outros.
Parece-nos que as duas maiores as marcas do tempo em que caminhamos com a Paróquia Imaculada Conceição são: a compreensão e sentido de comunhão (comum união) entre todas as comunidades, expressa na preparação e realização de nossa Festa das Comunidades, que acontece a cada ano. Ao longo dos sete anos, fomos imprimindo um ritmo de participação e de envolvimento de todas as comunidades: visitas e bênçãos, uma comunidade conhecendo e visitando a outra, todas as comunidades assumindo o trabalho desde o planejamento até a concretização da Festa. A segunda marca diz respeito à implantação da Iniciação à Vida Cristã com inspiração Catecumenal. A Paróquia de Fraiburgo foi uma das que assumiu primeiro fazer essa experiência. Graças à Equipe de Coordenação e Coordenações das Comunidades (da Catequese) e apoio das lideranças, conseguimos fazer acontecer este Projeto na Paróquia de Fraiburgo. Foi um tempo intenso de preparação, formação, organização, dúvidas, incertezas, mas graças ao bom Deus acredito que a Paróquia de Fraiburgo contribui em boa parte para este processo e este Projeto. Teríamos ainda muitos outras iniciativas e outros aspectos que foram de fato “sal e luz” para o mundo e para todas as comunidades!
2. Qual o sentimento, quando foi informado sobre o seu envio?
Um sentimento misto de alegria e de tristeza. Alegria porque a missão sempre foi um sonho cultivado ao longo do meu ministério. Desejei sempre fazer uma experiência missionária em regiões distantes e necessitadas de uma presença fraterna e cristã. A missão Ad gentes em regiões como África sempre foi meu desejo maior. Porém, já no ano de 2018 enviei uma carta ao Bispo e ao Conselho manifestando minha disponibilidade para a missão, e já elencava alguns lugares de missão. A grata alegria veio no retorno de Dom Severino da Assembleia Ordinária dos Bispos, quando me apresentou a proposta de vir para a Prelazia de Marajó. A alegria tomou conta do meu coração! Procurei me informar sobre a realidade e aí fui realmente percebendo que os desafios seriam muitos, sob vários aspectos. É claro que junto a isso vem a tristeza por causa da distância, tanto da família quanto dos amigos, longe da caminhada da Diocese que tanto amo. Mas tudo isso só pode ser superado pela confiança que Deus foi há tempos preparando estes caminhos e pelo sentimento de entrega e de amor ao Plano de Deus para nós. A missão nos realiza e dá um novo sentido para nossa vida, para nossa fé e para a nossa missão.
3. Qual a expectativa sobre o trabalho missionário na Ilha de Marajó?
Desde o início procurei não criar muitas expectativas. Tanto é verdade que não sabia onde iria morar, o que iria fazer, com quem iria trabalhar. Apenas uma comunicação rápida de Dom Severino sobre o pedido de Dom Evaristo, bispo de Marajó, para ajudar na implementação da Iniciação à Vida Cristã na Prelazia. Sempre colocava meu serviço, a ser assumido na Prelazia, nas mãos de Deus e peço as orações de todos e de todas! Pensava e acredito nisso: o caminho se faz ao caminhar, sem pretensões, mantendo um diálogo fraterno com o Bispo, com clero da Prelazia, com as lideranças e comunidades. O Sínodo para a Amazônia nos dá uma grande lição: escutar e converter-se (pastoral, cultural, ecológica e sinodalmente). Para isso, é necessário abertura e disponibilidade para “aprender, desaprender e reaprender”. Minha expectativa, neste momento, é fazer esse enorme exercício de ouvir e aprender com os povos amazônidas e, no diálogo, crescermos como seres humanos e cristãos numa relação harmoniosa com a natureza, com a nossa Casa Comum.
4. Qual a primeira impressão com relação ao povo? O senhor foi bem acolhido?
A primeira impressão foi ótima. Fui muito bem acolhido por Dom Evaristo, pelos padres, pelas lideranças da Prelazia e pela comunidade onde tenho minha residência. Para iniciar, participei de uma reunião do Conselho Prelatício (que para a Diocese de Caçador é o Conselho Diocesano de Pastoral). Para mim foi fundamental essa participação, pois pude ter uma ótima visão da Prelazia, fazer contato com padres e lideranças que vivem e trabalham neste chão marajoara. Foi importante, pois tive a oportunidade de participar das reflexões sobre dois documentos atuais da Igreja: para o Brasil, foi o estudo das Diretrizes da Ação Evangelizador da Igreja no Brasil 2019-2023 e para o mundo, o Documento Final do Sínodo para a Amazônia “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Um segundo momento foi a participação na Reunião do Clero onde puder ter uma visão geral das mudanças que ocorrem na Prelazia. Dom Evaristo tem insistido – em sintonia com o Sínodo e com o desejo do Papa – na sinodalidade e, para isso, constituiu “fraternidades presbiterais”, onde acentuou que precisamos crescer nesta consciência e nesta prática, pois devemos ser os primeiros a dar testemunho da vida de comunidade cristã autêntica.
5. Existe alguma frente de trabalho? Quais seriam as prioridades de atendimentos?
Sim, existe. A minha principal tarefa é ajudar a avançar a caminhada da Iniciação à Vida Cristã com inspiração Catecumenal. Mas também estarei à disposição das paróquias da Prelazia para outros aspectos da formação de lideranças. A primeira e mais importante tarefa é saber, conhecer o chão que estamos pisando. Por enquanto, estou conversando com a chamada Região dos Campos, dialogando com os padres e com a Coordenação da Catequese, buscando saber em que situação se encontram, quais os desafios, o que já fizeram e estão pensando em fazer. Também auxilio a Paróquia Menino Deus, Catedral de Soure, sede da Prelazia. Já celebrei e visitei algumas comunidades.
A prioridade no momento é conhecer! Conhecer os ritmos, conhecer o que já existe, conhecer a cultura, conhecer!
6. É uma maneira diferente de vivenciar o sacerdócio? Qual a importância dessa experiência para sua vida religiosa e também pessoal?
Com certeza, é uma maneira muito diferente e especial para mim. Neste contexto, algo que se torna mais significativo, para mim, é aquilo que o próprio Sínodo apontou: passar de uma pastoral de visita para uma pastoral de presença. Esta talvez seja a grande lição a ser aprendida por mim; e quem sabe um dia possa compartilhar com outros. O ministério do padre nesta região pede uma enorme conversão da Igreja como um todo, que ainda está em discussão e esperamos que a partir da Exortação do Papa possa abrir caminhos a homens casados que possam assumir não somente o diaconado, mas também o presbiterado; para as mulheres que possam também receber a ordem do diaconado e participação mais efetiva nas decisões e nos rumos da Igreja.
Do ponto de vista pessoal, acredito que esta será uma experiência muito significativa. Espero que esta experiência me ajude em meu processo de conversão – como nos pede o Sínodo – pastoral, cultural, ecológica e sinodal. Do ponto de vista pastoral, que me ajude a viver a missão respeitando os processos e experiências dos povos e comunidades; do ponto de vista cultural, a buscar trazer para minha vida e por onde eu estiver o estilo de vida do Bem Viver, que as comunidades indígenas e amazônidas nos ensinam; do ponto de vista ecológico, que cada vez mais me coloque na defesa e no cuidado com a Casa Comum; e do ponto de vista sinodal, que eu possa aprender cada vez mais a viver a comunhão e a participação em comunidade e em fraternidades presbiterais.
7. Uma mensagem para a Diocese de Caçador
Em primeiro lugar, gostaria que todos os padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas – lideranças ou não – pudessem experimentar o sabor da missão. Somos todos missionários e missionárias. O Papa nos lembra que todos os batizados são missionários e que o cristão anuncia com alegria o Evangelho de Cristo porque é sinal de uma vida nova, é sinal da Páscoa (EG, n.6). Deste encontro com o Morto-Ressuscitado que “somos resgatados de nossa consciência isolada e da autorreferencialidade” (EG, n.8). Não é uma tarefa heroica pessoal mas uma resposta generosa ao chamado que Deus nos faz. Minha mensagem final é essa: todos somos missionários, somos uma missão! A forma como vamos dar nossa resposta é de acordo com as interpelações de Deus. Às vezes, pode ser participando ativamente da comunidade, sendo uma presença generosa, propositiva e orante. Outras, assumindo um trabalho na comunidade de fé: animador de grupo de reflexão, catequista, ministro… Outras ainda, ajudando os outros a crescer nessa consciência missionária, participando de atividades da IAM (Infância e Adolescência Missionária), Juventude Missionária, Conselhos Missionários (diversos níveis), grupos de ação missionária, animando e organizando o Mês Missionário, divulgando as ações missionárias… Outras, ainda, se lançando na missão mesmo. Aqui está o grande desafio da Diocese de Caçador. O Secretariado, a pedido do Conselho Diocesano de Pastoral, está elaborando uma proposta missionária em vista de retomar o Projeto Igrejas Irmãs. Informe-se, participe e deixe-se envolver por este projeto. Rezem por mim, e por todos os missionários e missionárias do mundo inteiro.
Para contato com o padre Celso:
Pe. Celso Carlos Puttkammer dos Santos
Endereço: 3ª Rua, n. 1428/ Centro
Fone/Whatsapp: (91) 9 9278-0726
Fone/Casa/Cúria: (91) 3741-1333
Email: celsocarlos@diocesedecacador.org.br
CEP: 68.870-000 SOURE – PA
Entrevista realizada por Elaine Karch de Almeida
Pastoral da Comunicação