O CAMINHO DA MATURIDADE CRISTÃ – Carta de São Paulo aos Gálatas (última parte) 

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O CAMINHO DA MATURIDADE CRISTÃ – Carta de São Paulo aos Gálatas (última parte) 

 Irmãos e irmãs muito amados!

Com este encontro concluímos nossas reflexões sobre a Carta aos Gálatas. O motivo pelo qual estudamos esta Carta é porque foi escolhida como tema para o mês da Bíblia deste ano de 2021. Percebemos, no entanto, que ela se constitui num excelente programa de vida a ser seguido ao longo de toda a nossa vida. São Paulo escolheu cada palavra, com muita atenção, para demonstrar às comunidades cristãs da região da Galácia, o maravilhoso presente que Cristo nos trouxe: a verdadeira liberdade. Esta é uma boa notícia para todas as pessoas que realmente desejam seguir os passos de Jesus com convicção e alegria. A verdadeira liberdade baseia-se na certeza de que a salvação nos é oferecida gratuitamente pelos méritos de Jesus Cristo. Ele nos tornou justos apesar de sermos pecadores. Daí decorre um jeito de viver que deve ser a característica dos seguidores e seguidoras de Jesus. Podemos resumir este “jeito de viver” em três pontos fundamentais:

  1. Unidade na diversidade

Este primeiro ponto da prática cristã está sintetizado nesta passagem: “De fato, todos vocês são filhos de Deus por meio da fé em Cristo Jesus. Pois todos vocês que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo. Não há mais judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vocês são um só em Cristo Jesus (3,26-28).

Quando uma pessoa faz a opção de seguir a Jesus Cristo deve abandonar definitivamente o egoísmo, o isolamento, o indiferentismo e toda atitude que a separa das outras pessoas. Optar pelo caminho de Jesus significa relacionar-se com os outros, fazendo o bem sem discriminar ninguém. Optar por Jesus é ter consciência de que Deus é Pai de todos; é comprometer-se a amar como Jesus amou. Isso faz com que as pessoas se aproximem, se conheçam, dialoguem e se acolham mutuamente. Por isso, Paulo, com toda a convicção, dirige-se aos gálatas chamando-os de irmãos e desejando-lhes “graça e paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo…”. Por três vezes Deus é invocado como “Pai” nos primeiros cinco versículos. O Pai de todos os povos não faz acepção de pessoas, conforme revelado de forma plena em Jesus Cristo que “se entregou a si mesmo pelos nossos pecados” (cf. 1,1-5).

  1. Liberdade em Cristo Jesus

                          São Paulo, a partir de sua experiência pessoal, descobriu e viveu este princípio que transformou a sua vida: “É para a liberdade que Cristo nos libertou. Fiquem firmes, portanto, e não se deixem prender de novo ao jugo da escravidão” (5,1.13).

Com a vinda do Messias chegou o tempo propício para que todas as pessoas descubram o verdadeiro caminho da liberdade e vida. Na Carta aos Gálatas, Paulo se esforça para demonstrar em que consiste concretamente a liberdade que Cristo trouxe. O primeiro aspecto relaciona-se com a Lei judaica que atribuía ao ser humano a capacidade de salvar-se mediante as obras, submetendo-se ao legalismo. A realidade, porém, demonstra que nenhuma pessoa alcança a justiça, a salvação e a vida através de suas observâncias. A vinda do Messias inaugurou um novo Israel, um novo povo de Deus, não mais com base na etnia nem no legalismo e sim na fé em Jesus Cristo que age por meio do amor.

O segundo aspecto refere-se ao sistema romano. Paulo, em sua missão, enfrentou conflitos de toda ordem: processos, condenações e prisões. Conhecia as cidades greco-romanas que se orgulhavam de suas liberdades e, no entanto, mais da metade de sua população era escrava a serviço dos interesses dos “homens livres”. Somente estes homens eram considerados cidadãos e podiam ter voz e vez. As mulheres, escravos e estrangeiros eram excluídos. De modo diferente, os discípulos e discípulas de Jesus, a liberdade caracteriza-se pela participação de todos numa relação de irmandade, vivenciada a partir da fé e celebrada na Eucaristia.

O terceiro aspecto diz respeito à relação com as autoridades da Igreja. Paulo, convicto de que sua vocação veio diretamente de Cristo, dirige-se sem constrangimento a Pedro, a Tiago e a João, os quais lhe estenderam as mãos em sinal de comunhão e lhe deram a aprovação para o seu ministério junto às nações. Cada seguidor ou seguidora de Jesus deve assumir sua missão com os dons que possui, sem uma submissão cega à autoridade, porém mantendo-se aberto ao diálogo e vivendo em comunhão fraterna como servidores de Cristo e do seu Evangelho.

Por último, Paulo experimentou a liberdade em sua própria pessoa. Sente que é limitado, solidariza-se com os fracos e pecadores, com as dores e angústias do mundo. Cada um de nós, pela força do Espírito Santo, pode ultrapassar as contradições que experimenta em si próprio e entregar-se à graça de Cristo a ponto de declarar como Paulo: “Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim” (2,19b-20).

  1. Amor gratuito

                        A verdadeira liberdade manifesta-se no amor ao próximo. “De fato, irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas que a liberdade não sirva de pretexto para a carne. Ao contrário, por meio do amor, ponham-se a serviço uns dos outros. Pois a Lei toda está completa num só mandamento: ‘Amar o próximo como a si mesmo’ (5,13-14).

A liberdade se evidencia na responsabilidade, na fraternidade e no exercício da cidadania, ou seja, na autêntica vida cristã em todos os seus aspectos. Jesus inaugurou um tempo novo: o tempo do Espírito que se expressa num novo modo de viver, que se resume no amor sem fronteiras. Isto implica na renúncia das “obras da carne” e na adesão às “obras do Espírito”. A liberdade não pode ser pretexto para agir segundo os impulsos egoístas. Implica também em tornar-se responsável pelo comportamento do próximo, corrigindo-o se necessário e “carregando os fardos uns dos outros”, com a consciência de que ninguém é superior aos demais e com a responsabilidade de envolver-se nas questões sócio-políticas, em vista de uma sociedade de justiça, de paz e de fraternidade (cf. Gl 6,1-10).

Consideração final

Irmãos e irmãs muito amados! A Carta aos Gálatas precisa ser frequentemente lida e meditada, preferencialmente em grupo, pois ela apresenta o caminho para a maturidade cristã. Paulo o descobriu depois do encontro que teve com Jesus Cristo. Foi amadurecendo ao longo de sua experiência como discípulo missionário de Jesus em contato com as pessoas sofredoras e excluídas tanto pelo sistema religioso judaico como pelo sistema político imperial.

Diante do que ele escreveu inspirado pelo Espírito Santo, somos levados a nos interrogar sobre a evangelização a ser desenvolvida tendo em vista a liberdade que Cristo nos trouxe: uma evangelização que proporcione a saída do estado de dependência a normas e ritos para uma resposta de amor consciente e gratuito a partir das pessoas em situação de sofrimento. À luz do que Jesus nos revelou, Deus não se identifica com religião, com instituição eclesiástica, com doutrina, com teologia ou com outra coisa. Deus é Amor!

Celso Loraschi e Núcleo de Estudos Bíblicos

da Faculdade Católica de Santa Catarina

 

 

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