39ª Semana Nacional do Migrante – Migração e Casa Comum

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39ª Semana Nacional do Migrante – Migração e Casa Comum

Em sua 39ª Edição a Semana do Migrante/2024 tem como tema: “Migração e Casa Comum” e o lema “Alarga o espaço da tua Tenda” (Is 54,2). Ela se faz para nós um grande momento de tomada de consciência, como Igreja e como Sociedade, frente à uma realidade que provoca migração forçada e não promove a acolhida digna. Ao mesmo tempo nos convida a alargar o nosso coração para uma acolhida afetiva e efetiva, como família de Deus que busca e promove a “amizade social”, para romper as barreiras que impede a solidariedade, a promoção e a integração de todos os irmãos e irmãs que buscam um novo lugar ou uma nova pátria.

Como proposto no Texto Base, somos chamados a fazer a experiência da Fraternidade Universal através do acolhimento, do afeto e do cuidado buscando o Bem Viver Fraterno. A falta do cuidado com a Casa Comum, a polarização, a violência, a guerra, a fragilidade das relações entre as pessoas e as políticas que geram exclusões tem agravado a situação, sobretudo dos mais pobres, levando-os a migrar forçadamente em busca de trabalho e sobrevivência, distanciando-os de suas famílias, dos vínculos afetivos, em situações de grandes sofrimentos.

Neste ano, a Semana do Migrante se realiza de 16 a 23 de junho de 2024. É um momento oportuno para sair do nosso mundo egoísta e fechado, alargando o nosso coração para a Fraternidade Universal. Vamos cuidar desta Casa Comum como espaço acolhedor da criação, sem exclusões, pois, estamos todos conectados e somos todos irmãos e irmãs. É a oportunidade de empenharmos com ousadia profética, que supera a cultura da indiferença, na certeza de que somos todos peregrinos e peregrinas da esperança, desde já, aqui nesta Casa Comum, onde mesmo sem ter morada definitiva, armamos nossas tendas, sinais do Reino de Deus.

Migração e casa comum

Existem atualmente vários estudos sobre a questão das mudanças climáticas. Na Carta Encíclica Laudato Si’, publicada em 2015, o Papa Francisco, inspirado no Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, coloca na agenda global o debate, preocupante e oportuno, sobre a preservação do meio ambiente. Trata-se de um alerta que vinha ecoando desde as últimas décadas do século XX, através de vários cientistas e, em particular, através dos movimentos ambientalistas. Mais que números, estatísticas, porcentagens e tabela, o Francisco cunha a expressão do cuidado como nossa casa comum. O cuidado representa outra maneira conviver com a natureza, que difere frontalmente da exploração desmedida e inescrupulosa. Em outras palavras, ou a humanidade cuida, cultiva, preserva e convive de harmoniosamente com a Terra e seus ecossistemas, ou estamos todos e todas condenados ao naufrágio desta gigantesca nave. Não podemos permitir que o planeta deixe de ser fonte e mãe de todas as formas de vida (biodiversidade). Ao contrário, temos de ajudar a natureza em sua imensa beleza, riqueza e gratuidade – mas tudo para todos e todas.

De acordo com o Papa, a nossa casa comum está em perigo. A velocidade da economia globalizada atropela e devasta o ritmo da natureza. Esta, agredida por todos os lados, volta-se contra a humanidade. A longo prazo, o sistema de produção capitalista torna-se antropofágico, devorando suas próprias entranhas. Além disso, o processo de produção-comércio-consumo, tendo como motor o lucro e a acumulação do capital, cava um fosso cada vez mais profundo entre o pico e a base da pirâmide social. Disso, decorre que as necessidades básicas da população seguem sendo sistematicamente proteladas, quando não simplesmente esquecidas. Excesso de produção, até mesmo de alimento, por um lado, pobreza e fome, por outro, caminham de mãos dadas, numa contradição intrínseca da política econômica.

Desde o ponto de vista do fenômeno migratório, uma pergunta se impõe nesta Semana do Migrante: quem são as principais vítimas da devastação dos biomas e florestas, da desertificação do solo, da contaminação do ar e das águas, do aquecimento global? Evidentemente que a pergunta é retórica! Já sabemos a resposta: são as populações podres e excluídas que, por falta de condições econômicas e sociais, se refugiam em lugares inapropriados para sentar moradia. Vulneráveis devido à falta de trabalho, à pobreza e à miséria, acabam igualmente vulnerabilizadas pelos extremos das catástrofes “naturais” (as aspas indicam que tais tragédias têm cada vez mais a mão do ser humano), tais como estiagens, ciclones, furacões, inundações – enfim, pela fúria da natureza agredida.

São essas populações que, atingidas em primeiro lugar, deixam sua terra e se põem na estrada. Os números das organizações internacionais como a ONU e a ACNUR, estimam em mais de 100 milhões o número de refugiados. A esses, devemos acrescentar esta nova modalidade de refugiados climáticos, em franco crescimento. Da mesma forma que as tensões étnicas, religiosas, ideológicas, políticas e culturais; que os conflitos, guerras e todo tipo de violência; que a situação de extrema de extrema pobreza, carência e abandono – também os impactos, as implicações e as consequências do aquecimento global e demais anomalias das mudanças climáticas expulsam multidões de pessoas da própria terra, de junto dos familiares, amigos e parentes. Medem-se hoje aos milhões o número de migrantes que se põem a caminho devido à pressão sofrida pelo excesso ou falta de chuva, de frio, de calor; pelas enchentes e deslizamentos de terra, e assim por diante.

Alarga o espaço da tua tenda

O lema da Semana do Migrante, extraído do profeta Isaías: alarga o espaço da tua tenda está em sintonia com a Carta Encíclica Fratelli Tutti. Somos convidados a construir uma casa para todos os seres humanos e para todas as formas de vida. Nesta casa, todos e todas possam tornar-se irmãos e irmãs no espaço dessa casa, numa vizinhança sadia e saudável. Além disso, vem a convite de passar do viver bem egocêntrico e egoísta ao bem viver fraterno e solidário, em sintonia e harmonia com a terra e a natureza.

Todas as pessoas, povos e culturas são portadoras de valores e expressões culturais e religiosas diferentes. Apesar das diferenças (ou justamente por causa delas), em todas as religiões existem sementes do verbo. Os migrantes são portadores dessas sementes, podendo através delas criar novas pontes e eliminar os muros que nos separam. O Documento de Aparecida, ao mesmo tempo que reconhecem que os migrantes são vítimas e fugitivos, são pobres e excluídos, são explorados e abandonados, são “descartáveis”, também são chamados a ser profetas, artífices e protagonistas de novos tempos.

Ao colocarem os valores e culturas em confronto, ajudam no processo de diálogo, depuração e purificação progressiva de cada uma dessas visões de mundo. Toda pessoa, grupo ou cultura cresce e se enriquece no encontro e no embate com o diferente, o outro, o estrangeiro. “Os migrantes que partem de nossas comunidades podem oferecer valiosa contribuição missionária às comunidades que os acolhem” (DAp, nº 415).

O projeto do Papa Francisco, tantas vezes repetido, de “passar da globalização da indiferença” para a “cultura do encontro, da fraternidade e da solidariedade” constitui, em não poucos casos, uma tarefa dos migrantes. São estes que, deixando suas terras, aventurando-se por caminhos tortuosos e desconhecidos, rompem com os muros e fronteiras que dividem nações e povos, ultrapassam uma série de obstáculos, na busca de um futuro menos amargo. Enfim, são eles que nos ensinam a “alargar o espaço da tenda”. E não é só isso! Eles nos ensinam que toda casa erguida no decorrer da vida terrestre não é mais do que uma simples tenda, pois somos todos peregrinos sobre a face da terra. Alargar o espaço de nossa tenda em direção à amizade social com todos os povos e nações consiste na forma adequada de construir em bases firmes e sólidas a nossa casa comum.

 

Por João Cláudio Casara

Articulador das Pastorais Sociais

  

 

 

Oração da Semana do Migrante – 2024

Deus de todos os povos,

que amas a todos com amor de Pai e Mãe,

e aos empobrecidos com infinita bondade e compaixão,

gratidão por tua presença benfazeja em nossas vidas,

pois não somos nada sem Ti.

Renova nossas forças para seguir lutando

em meio a tantas dores e dificuldades.

Acolhe em teus braços as pessoas que nos deixaram,

vítimas das guerras, do ódio e da intolerância.

Aumenta nossa capacidade de diálogo

com quem pensa diferente de nós.

Torna-nos mais humanos,

repletos de respeito pela Mãe Terra.

Desperta em nós a solidariedade e a capacidade de

alargar a nossa tenda para acolher e integrar,

especialmente aos migrantes e refugiados,

nossos irmãos e nossas irmãs.

E não nos deixe perder a alegria e a força

para lutar por uma sociedade para todos.

Amém!!!

 

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