Jovens crismados de Fraiburgo reúnem-se no Santuário Diocesano
30 de setembro de 2019De um projeto missionário para um estado permanente de missão
1 de outubro de 2019Entrevista: “A missão reforça o sentimento de gratidão a Deus”
Em entrevista, o Padre Renato Caron, fala sobre a missionariedade a partir de sua experiência no Haití.
Segundo Pe. Renato, o espírito missionário é o primeiro passo para caminhar em direção do próximo.
Pascom – Defina o conceito de ser missionário:
Pe. Renato – Ser missionário… Olha que verbo nós usamos na referência: verbo SER, que significa um estado de vida, independente das circunstâncias e das especificidades de tempo, espaço, recursos ou qualquer outra. É um estado de vida, de caráter permanente e não transitório (porque nesse caso o verbo seria ESTAR), em que diariamente renovamos nosso compromisso de anunciar o Reino e trabalhar no Projeto de Jesus Cristo enfrentando todos e quaisquer condicionamentos que possam dificultar ou tentar impedir a realização da missão. Seja ela qual for. Dentro ou fora da paróquia, da diocese ou mesmo do país. Mas, penso que é ainda mais importante considerar isso no aspecto pessoal, ou seja, dentro ou fora da gente mesmo! Afinal, o ‘sair-de-si’ (contrário do ‘centrar em si’ = egoísmo) enquanto espírito missionário, é o primeiro e fundamental passo pra todos os demais movimentos missionários, que nos põem a caminho, na direção do outro.
Pascom – Como vivenciar o evangelho na missão?
Pe. Renato – Confiando nossa pequenez e nossas fragilidades na mão do ‘Divino Oleiro’ diariamente, em nossos momentos de oração pessoal e comunitária. E suplicando como Francisco de Assis: “FAZEI-ME” (porque às vezes, é preciso vencer nossas resistências). E exercitando-se na caridade quotidiana, dos pequenos gestos, indiscriminadamente, sem hora, nem tempo, sem classificação e sem receio de amar, fazendo disso a ‘marca registrada’ da missão, a sua identidade mesmo, sempre, e não apenas como um esforço transitório, uma espécie de ‘campanha’, que tem prazo, e se refere mais ao ESTAR do que ao SER.
Pascom – De que forma a missão contribui para o seu sacerdócio?
Pe. Renato – O Espírito Missionário é aquele que nos impele desde o princípio a fazermos algo para melhorar o mundo e realizar nele a vontade do Criador. Ouso dizer que é a parte da herança que Deus, nosso Pai, nos concede desde o nosso batismo. É um tesouro de capacidades e sentimentos que nos foi confiado e que nos desafia a fazê-lo ‘render’ e produzir frutos (lembra da parábola do Talentos?). Mas ainda há muitos que, como o Filho Pródigo, só o utilizam em benefício próprio.
A missão, enquanto desafio pastoral de anunciar a Boa Nova do Reino, reforça em cada missionário e missionária o sentimento de gratidão a Deus. Gratidão por Ele querer precisar de nós, gente simples como somos todos os missionários/as, pra fazer o que Ele faria muito mais rápido e melhor. E é justamente essa pedagogia divina de ensinar os filhos, confiar neles e desejar que cresçam e amadureçam em todas as suas potencialidades que nos encanta e faz cantar, por nos sentirmos amados por Deus. E a partir disso, querer que muitos mais possam experimentar esse mesmo sentimento e, quem sabe, mudar suas vidas pelo sentido novo que essa relação com o Amor lhes proporciona.
E assim, viver em Gratidão, viver em ação de graças, este é o sentido que a missão confere ao nosso sacerdócio.
Pascom – Como é evangelizar para pessoas que não são católicas?
Pe. Renato – Quando um não-católico vem te trazer um côco ou alguma outra fruta que colheu no seu quintal, ou algum pescado ou pedacinhos de carne, ou mesmo um copo de suco ou algum pouco de comida preparada em sua casa… quando uma pessoa não-católica te agradece e reza por você depois de ter recebido uma carona… quando uma criança não-católica pega na tua mão na rua porque gostou do que você falou na escola dela… quando uma pessoa não-católica depois de te ver sendo gentil no trânsito ou respeitoso no mercado te pede desculpas por ‘ter pensado mal de você’… quando uma pessoa não-católica atravessa a rua pra te saudar porque você ajudou alguém da família… quando uma pessoa não-católica reza de mãos dadas com você quando você visitou o pai ou a mãe dela doente… e quando, por algum motivo uma pessoa não-católica reza por você na igreja dela… quando um católico volta a se engajar na sua comunidade porque viu o padre recebendo ricos e pobres com a mesma alegria… quando um católico te convida pra almoçar na casa dele porque percebeu que você não faz ‘cerimônia’ inerente ao cargo… quando um católico te chama dentro de uma loja pra se confessar dizendo que nem sabe mais como fazer porque faz muito tempo que não se confessa mas sentiu que ‘Deus o puxava’ quando te viu… nessas horas a gente se alegra e se emociona, pois sentimos como é gratificante evangelizar, e mesmo sendo um pote de barro poder servir essa ”Água Viva” e assim anunciar o Reino de Deus.
Entrevista realizada por Juliana Rodrigues
Pastoral da Comunicação