Setembro: Mês da Bíblia

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Setembro: Mês da Bíblia

 Bíblia de Palavra de Deus

A Bíblia enquanto livro,

            Frei Carlos Mesters, utiliza várias metáforas para facilitar a compreensão da Bíblia, entre elas está o porque da distribuição e agrupamento dos livros da Bíblia. É famosa  a Biblioteca de autoria de Mesters, onde se colocam os livros  por suas características. Antes dela, vou trazer outra associação: Aquela que utiliza a organização de um jornal, para classificar os livros. No jornal, temos a parte que trata de esportes, a que  fala de política, outra do tempo, outra de sociais assim por diante. Na Bíblia também em cada prateleira, os livros que ali estão tem características comuns. E esta é uma grande chave de leitura. Vamos explicar o que significa chave de leitura: Um olhar a partir do qual analisamos um texto, um livro. Se eu tomar  por exemplo a chave de leitura gênero textual, vou ler poema como poema, sátira como sátira, ironia como ironia. Não posso tomar um livro ou filme de ficção  e neles utilizar as mesmas regras que utilizaria em um documentário para analisar. Se tomar esta atitude, com certeza incorrerei em erros que comprometerão o trabalho. Chave é aquilo que abre a porta, justamente porque desvenda o segredo que a mantém fechada. Assim temos várias chaves de leitura: O gênero textual  é narrativa? É poesia? É canto? É oração? É novela? É história e contém fatos e lugares comprováveis? É parábola? a língua em que o texto original foi escrito, e para quais outras línguas foi traduzido até chegar à nossa língua. Quando pensamos em traduzir um texto de uma língua para outra, o que importa, muito além do significado denotativo da palavra , é sentido. Logo, nem sempre as palavras traduzidas são exatamente identicas às  que encontramos no dicionário. Isto é facilmente perceptível quando acompanhamos uma tradução de uma entrevista, por exemplo na televisão se entendemos a língua que a pessoa entrevistada fala. A tradução parece enfraquecer, muitas vezes a eloquencia daquilo que foi dito. Calma, as traduções bíblicas são feitas com seriedade, bem como é facil imaginar o cuidado e a demora com que foram selecionados os livros para comporem as “prateleiras” de Mesters. Trabalhando com catequese, percebe-se que as instruções básicas precisam ser dadas. Por exemplo é necessário dizer que cada nome é um livro, e para isto, ver o índice. Ali, no índice já aparecem os agrupamentos por características básicas. Que os livros são divididos por capítulos como qualquer outro livro, porém os capitulos da Bíblia não iniciam página nova, mas são marcados por um número grande e que além desta divisão por blocos de Assuntos similares entre si, os capítulos também são divididos por pequenas parcelas chamadas de versículos. São os nomes e estes números dos livros  que permitem a localização das citações. Ainda  há subdivisões marcadas pelas letras do alfabeto. Uma remarcação posterior que auxilia na compreensão dos textos. E há marcações com letras, indicando que no rodapé da página há uma explicação para aquele termo, expressão ou palavra.

Vamos a um exemplo: 

2A Pregação de Paulo em Corinto –“ 1Eu mesmo,quando fui ter convosco, irmãos, não me apresentei com prestígio  da palavra ou da sabedoria para vos anunciar o mistério de Deusc. 2Pois não quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado.”

                O número grande (2) significa que estamos no capítulo 2. A frase em negrito, é apenas um título que pode ser diferente conforme o tradutor e não faz parte do texto e que muitas vezes é lido como se fosse. O número sobrescrito   1Eu, 2Pois, marca o versículo.  Esta citação indicamos como 1Cor. 2, 1-2 , ou seja, Primeira carta a Coríntios (1Cor.) Capítulo 2, versículos de 1 a 2.  Neste caso, a letra em Deusc, corresponde ao rodapé, com a seguinte explicação: c) Var.:(variação)“o testemunho de Deus”. Quer dizer que podemos encontrar tradução com: “…vos anunciar o testemunho de Deus”. O sinais utilizados pela Igreja Católica são estes: após o número que indica o capítulo, temos uma vírgula(,). Quando queremos dizer que o texto deve ser lido de tal até tal versículo, coloca-se travessão (-), como no exemplo. Quando encontramos um ponto na citação, como em Lc 1,23-25.41-45  lemos: Evangelho de Lucas capítulo um (1), versículos de vinte três (23) a vinte cinco(25) e de quarenta e um(41) a quarenta e cinco(45). O ponto significa que não se lerá os versículos de vinte seis(26) a quarenta (40) e que o sentido do que se quer está garantido.

       Enquanto livro, a Bíblia tem vários autores, como o tem as coletâneas ou os livros que cada capítulo foi escrito por outro autor, porém reflete o mesmo assunto por outra ótica. Um rico livro, onde não apenas a ótica muda, mas mudam também os personagens, que ora são jovens, ora são idosos, outras estrangeiros, outras ainda migrantes, mulheres, homens, famílias,  há também os que buscam alimento para si ou para seus animais.  Mudam os tempos, mudam  os recursos, os costumes. O que não muda é o eixo: A busca e presença de Deus. Um Deus que caminha junto, o Emanuel. Enquanto livro, a Bíblia é um único volume, que pode ser dividido sem perder cada parte seu sentido, mas que entre si complementam e aprofundam um ao outro. Um livro diferente, que agrupa outros livros para compor uma unidade que testemunha a presença do Deus Vivo na grande Caminhada do Povo de Deus, rumo à Terra prometida. Caminhada cheia de desafios, contratempos, provações, ensinamentos, correções, amores, louvores, acertos, erros, canções, profecia, anúncio e denúncia. A Terra prometida, aquela onde reina o amor, a justiça, a saúde, o bom, o belo, alegre, feito de paz inquieta e ativa, feita de Fé, Esperança e Caridade.

A bíblia enquanto biblioteca: Enquanto  biblioteca, olhamos a Bíblia na sua composição. Os 46 do Antigo ou Primeiro Testamento e os 27 do Novo ou Segundo Testamento.Então, em um lado da prateleira, estão os livros que narram fatos antes do nascimento e vida de Jesus. Do outro lado aqueles que narram fatos de sua vida e testemunho, paixão, morte e Ressurreição e das primeiras  comunidades. Como livro, a lista foi encerrada, mas como Caminhada de seu povo continua a ser escrita na vida daqueles e daquelas que decidem viver sua fé em comunidade. Sem necessidade de acrescentar nada ao que está escrito, pois é o suficiente. Vamos então caracterizar cada  conjunto de livros. O que eles tem em comum para que estejam agrupados.

Do Primeiro* ou Antigo Testamento:  * O termo primeiro em lugar de antigo, é um termo utilizado pelo CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) significando que um é continuidade do outro, não substituição. O Segundo não anula o primeiro, mas completa. Continua.

            Pentateuco: Penta (cinco). A palavra já diz o que significa. São os cinco livros que compõe a Torá(Lei) judaica. Traz como primeiro livro o Genesis, por refletir sobre a origem do mundo, do ser humano, do pecado e do povo de Deus. Foi escrito em um momento de crise com a finalidade de refazer a Aliança com Deus.  Depois vem Êxodo que é o eixo, refletindo a saída da escravidão sob a liderança de Moisés. O terceiro livro é Levítico, que traz as leis do culto, as obrigações sacerdotais e dos levitas. O quarto livro é o de Números, assim chamado por iniciar com acontagem do Povo de Israel e Deuteronômio, que segundo Gruen, significa “literalmente, segunda via, ou cópia da Lei”. “É como uma segunda  constituição dos israelitas, enriquecida de reflexões sobre o sentido da caminhada.”

            Históricos: São 16 e  tem como característica, narrar a história dos líderes e seu povo. Contam histórias que retratam  a fidelidade e infidelidade do povo a Deus. São textos que remontam ao período da conquista da terra.  São eles: Josué, Juízes, Rute, Samuel I e II, Crônicas I e II, Reis I e II, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester e Macabeus I e II.

             Sapienciais: Nestes livros encontram-se a expressão da sabedoria e dos sentimentos do povo em forma de poesia, cantos, orações, ditos ou ditados populares. São eles:, uma bela reflexão sobre o valor das coisas e o valor da vida e da fé. Salmos, uma rica coletânia de cantos e orações. Provérbios, como agrupamento de frases de efeito em que poucas palavras significam muito. Eclesiates, a reflexão de um líder temente a Deus, e suas inquietações numa lição de despego aos bens terrestres.  Cântico dos Canticos: São poemas de amor entre o amado e a amada, que exaltam o amor humano, fazendo alusão ao amor entre Deus e seu povo. São poemas apenas unidos pelo seu tema. Sabedoria, os mostra o papel da sabedoria no destino humano, comparando a sorte dos justos e dos injustos. Eclesiástico: vem de eclesia, comunidade, o que significa que era lido em comunidade. Expressa o amor à sabedoria e à Lei, abordando vários temas em breves trechos. Retrata a fé na retribuição.

            Proféticos:  Narram a vida e atuação dos profetas. As suas principais mensagens, a variedade que dependia da característica do profeta. Eles (os profetas) têm consciência e profunda convicção de que sua mensagem vem de Deus, que os chama para serem sinais de sua vontade e eles são apenas instrumento. Os profetas são pessoas que julgam o presente e vêem o futuro à luz de Deus. São proféticos os seguintes livros: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, não, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

            Do Segundo testamento, os 27 livros também dividem-se em 4 blocos.

            Evangelhos e Atos: Os Evangelhos narram as palavras e ações de Jesus, mas a partir das comunidades  refletiam, cada uma com seu ponto de vista. Eles trazem por escrito as tradições vinda dos apóstolos e das comunidades. Atos, escrito por Lucas, narra a vida dos apóstolos, especialmente Pedro e Paulo, apresentando as comunidades como exemplo a ser seguido.

            Cartas de Paulo: No total são 14, nove das quais dirigidas a comunidades a fim de animá-las e ajudá-las a resolver problemas. As outras três,  são dirigidas aos líderes de comunidades, por isto são conhecidas como “pastorais”.

            Epístolas Católicas: São assim chamadas por não estarem dirigidas a alguém específicamente, mas apresentam o autor e dirigem-se a todas as Igrejas. Católico, significa universal.

           Apocalipse: Um livro escrito para sustentar a fé daqueles que enfrentavam perseguições por serem cristãos. Usa uma linguagem simbólica, para que pudesse ser entendida apenas por aqueles que a sabiam decifrar. É o livro da Esperança, escrito para dar conforto e coragem.

A Bíblia como fonte de saber:

            A bíblia é um livro diferente. Porque: Tem vários gêneros literários, é escrito em tempos diferentes, por pessoas de lugares e culturas diferentes, é escrito porque nem todos os povos tem o ouvido exercitado para ouvir e depois transmitir com fidelidade. Estudar a bíblia é mergulhar em seu sentido de origem, é visitar realidades extraordinárias e fundantes. Estudar a bíblia é conhecer a cultura dos povos, suas construções, seus trabalhos, seus valores, seus dramas, suas crenças, suas esperanças e seus desafios, a partir  de um centro: Deus que caminha, Deus presente, Deus Libertador, Deus Vivo. Estudar a Bíblia é respeitar o texto, é buscar o texto original para  preservar a memória e recuperar a experiência na fonte, buscando a fidelidade. E, mais uma vez lembro Frei Carlos Mesters que diz: A Bíblia é luz, e como tal, sua função é iluminar a realidade para que saibamos por onde andar, para que não tropecemos e nos machuquemos. Por isto, o método da leitura Orante, conduz com as perguntas: O que o texto diz? O que o texto diz para nós? O que o texto nos faz dizer a Deus? E, seguindo estes passos, perceberemos a vida que circula nas páginas deste livro. Quando perguntamos o que o texto diz, importa olhar para o texto  sem interpretação, sem colocar ali nossas impressões, é a hora também de aprofundar o conhecimento, buscando algum subsídio para ajudar a entender, em que época foi escrito, como vivia aquele povo, quais eram suas grandes dificuldades, o que fazia para sobreviver? Como vivia suas crenças, quem eram seus aliados, como se organizavam em sociedade, o que produziam, plantavam?  Criavam animais? O que aproveitavam? Estes dados são como lentes a tornar claras as imagens e luz que faz ver a nossa realidade. Cada livro é uma riqueza.

            Lembro o encontro de Filipe com o eunuco, ao qual Filipe pergunta: você entende o que lê? E ouve como resposta: como posso entender se ninguém me ensina? Como aprender? Existem muitos livros que ajudam, especialmente os livros produzidos pelo CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) utilizam um linguajar bem simples, fácil de compreender. Existem os Amigos de Jesus que  a cada  encontro oferecem o aprofundamento e oração. Existe a possibilidade de se reunir para estudar, sim, porque é muito melhor estudar em grupo. 

            Quando morei em Curitibanos, ficava encantada olhando os quatro quadros pintados na parede do presbitério: Um homem, e abaixo escrito Mateus; um leão e abaixo escrito Marcos; um touro e abaixo escrito Lucas; uma águia e escrito João. Até que descobri, que estes animais, referência aos quatro animais do apocalipse, (Ap 4, 6-8) representavam os quatro Evangelhos, testemunho da vida e obra de Jesus. E, para além das imagens, sem referência em estudos acadêmicos dos Evangelhos, pois é muito mais importante a particularidade de cada um por terem sido escrito para ou por comunidades  diferentes e que liam a mensagem de Jesus a partir de sua realidade, do que associar ao animal. Em todo caso, as imagens despertam curiosidade e ajudam a guardar, memorizar aspectos que identificam os destinatários da Palavra.Foi uma linguagem simbólica para que os cristãos das perseguições que fizeram nascer o Apocalipse tivessem a certeza de onde colocar sua esperança e onde estava a resposta para seus dramas e alívio para os sofrimentos.

            O Homem é a imagem do Evangelho de Mateus, pois ele inicia com a genealogia de Jesus, lembrando a comunidade de Jerusalém. Apresenta Jesus como o Novo Moisés e foi escrito entre os anos 70 a 90, mais ou menos, valorizando determinados aspectos próprios da comunidade de Jerusalém. Marcos, é o Evangelho mais resumido. Foi escrito para a comunidade de Roma por volta do ano 64 -70, após a primeira grande perseguição de Nero. Ele apresenta Jesus como o Novo Davi, que vem estabelecer uma nova ordem. Davi é conhecido como “o Leão da tribo de Judá”, aquele capaz de vencer o mal, por isto é representado pela figura do leão.  Lucas é representado pelo novilho, pois este lembra o sacrifício perfeito oferecido pelo sacerdote. E, Jesus Cristo é o Novo e Eterno Sacerdote, que oferece o último sacrifício. O Evangelho de Lucas foi escrito para as comunidades da Grécia e endereça a  um tal Teófilo (Teo =Deus, filo= amigo). E, João, é representado pela águia, que tem visão de longa distância, um Evangelho filosófico, teológico, da sabedoria. Foi escrito para cristãos helenizados, marcados pela filosofia onde o corpo quase não vale. A conclusão de seu escrito é datada por volta do ano 95. João não apresenta parábolas nem exorcismos, pois os gregos não entenderiam.

            O Evangelho é Jesus Cristo. Ele é a origem do Evangelho. Os discípulos anunciam o Cristo morto e Ressuscitado e as comunidades guardam os ensinamentos.

A Bíblia como fonte que sacia a sede interior:

“És água viva, és vida nova, e todo dia me batizas outra vez, me fazes renascer, me fazes reviver, eu quero água desta fonte que tu tens”. A letra fala por si. A água viva é esta renovação diária, a partir da dificuldades, das alegrias, das tristezas, dos desafios superados, das perguntas feitas e daquelas que não conseguimos nem elaborar tamanha é a encruzilhada que nos encontramos. Esta água viva, que não precisamos ir longe buscar, porque sabemos onde. Mas como se faz? Qual é o balde? Cada vez mais estamos nos apropriando do método, mas continuamos a repetir o pedido da samaritana: “Senhor,dá-me desta água para que eu não tenha mais sede”, porque era trabalhoso buscar a água, distante, o cântaro pesado, o sol quente e a estrada poeirenta. Porque então queremos aprender rápidamente? Só a insistência nos fará fazer brotar a fonte interior.

            O método da leitura orante, nos oferece esta possibilidade, claro, não é a única, mas já está testada e aprovada por aqueles e aquelas que se propõe experimentar. Este é o método utilizado em nossos itinerários catequéticos e agora passamos a detalhar os passos conforme  Projeto Diocesano de Iniciação à Vida Cristã. Primeiro passo: Leitura, ler e ouvir o texto bíblico. O foco é a compreensão do texto, por isto é importante prestar atenção nos personagens, cenas, palavras, gestos, lugares. Ler, reler, recontar. Sim, após ouvir é bom olhar a Bíblia, pois ainda precisamos deste auxílio. A pergunta central é: O que o texto diz em si?Segundo passo: Meditação. Aqui, atualizamos a Palavra em nossa vida. Não é o momento de fazer interpretações, é deixar-se interpelar pela Palavra. Confrontar a vida com a Palavra. A pergunta principal é: O que o texto diz para mim?para nós? Terceiro passo: Oração. Aqui se expressa o que a Palavra me faz dizer para Deus. Dependendo do que se “ouviu” será a resposta, pois a Palavra é boa para incentivar, corrigir, educar na justiça, assim a resposta pode ser louvor, ação de graças, súplica, pedido de perdão. A pergunta central é O que o texto me faz dizer a Deus. Quarto passo: Contemplação. Ajuda a enxergar o mundo de um jeito novo, percebendo Deus na vida. Leva apartilhar o que a Palavra fez experimentar e quais apelos propos. A pergunta é: O que o texto me leva a fazer?  O saborear a Palavra, exercitar o ouvido, silenciar, rezar, cantar, nos ajudam a melhorar a saúde, a alegria, e a elaborar os dramas humanos e diários que se nos apresentam. A Palavra é Viva e Eficaz!

Vera Regina Mazureck
Catequista
Especialista em Assessoria Bíblica
Mestre em Educação

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